19 março, 2008

..:: O Medo de Brasil ::..

Eu sei que esse provavelmente será um post depressivo, mas altamente real. Eu acho praticamente impossível que qualquer pesssoa acostumada com uma cidade grande não vá se identificar com algo nesse post...

Ontem fui à uma pesquisa de mercado, próximo à rua Funchal, aqui em SP. Até ai tudo bem, algo novo e lucrativo (sim, você ganha´para responder perguntas ou comentar se você gostaria ou não de tal produto), gostei muito de fazer. Pra ir foi tranquilo, porque estava claro, e a rua que usei pra ir era a da minha faculdade (ou seja, totalmente movimentada...), então tudo bem!

Pra voltar é que foi o problema. A rua que eu usei de acesso era uma subida sem condições, e então os funcionários do prédio me instruiram pra pegar o ônibus 3 quadras dali, em linha reta. Achei a melhor opção, como qualquer pessoa acharia. Passei em frente ao Canucks, um pub Canadense que o P. está louco pra ir, e na hora pensei nele e em quando poderíamos ir. Foi virar a esquina, numa rua bem mais iluminada e movimentada (por carros) que eu estava que esse sentimento horroso veio.

Pra começar uma família de moradores de rua. Fiquei com pena, de verdade mesmo. Tinham 2 crianças pequenas, de no máximo 5 anos, todas enroladas num cobertorzinho velho, se preparando pro frio. Continuei seguindo em frente, e avistei o ponto de ônibus, vazio. Juro, não fiquei ali nem 5 minutos, porque enquanto eu esperava 2 moleques com uma cara naa amistosa vieram na minha direção, um do meu lado esquerdo e o outro atravessando a rua na minha frente. Qualquer pessoa que já passou pela experiência de assalto ficaria tensa. E foi nesse estado que fiquei. Comecei a andar em direção ao meu lado direito, até que vi o Fifty's logo na frente, e uma viatura policial praticamente do lado do restaurante. Não hesitei em parar ali. Perguntei ao manobrista sobre onde ficaria um outro ponto de ônibus, que ele me informou ser do lado da viatura policial. E nesse meio tempo, olhei para os dois que me seguiam e realmente realizei que eram marginais, pois me seguiam e assim que entrei no restaurante eles "sumiram".

Fiquei do lado dos policiais até que mais 2 pessoas chegaram no ponto (2 garotos com roupa social, indicando que tinham acabado de sair do trabalho). Fiquei esperando o ônibus uns 15 minutos e então fui embora.

Esse post nem é pra contar os "dramas da minha vida", mas sim pra gente parar pra pensar. Gente, que país é esse? Que lugar é esse onde escurece e você tem que andar com medo? Um lugar onde se você não for mais atento é certamente alvo de um possível assalto? É nesse lugar que quero morar? É nesse lugar que quero criar meus filhos? É nesse ambiente de medo que quero viver? Medo de sair de casa?

Vi nesse final de semana o filme do Michael Moore, o "Tiros em Columbine". Em uma parte determinada ele vai pro Canadá, e fica besta com as coisas que encontra por lá (como portas destrancadas nas casas). Em Toronto (isso mesmo, gente, TORONTO) ele sai entrando nas casas, pra comprovar se era realmente verdade o que ele ouviu em outras cidades, e em determinado momento ele entra na casa de um senhor de cerca de 70 anos. Resolve perguntar o que todo mundo que vive no medo perguntaria: "O senhor não tem medo de deixar as portas destrancadas?". Ele respondeu tranquilo: "Eu deveria ter medo?". Michael Moore insistiu, não acreditando: "Por que o senhor não tranca as portas, ainda mais numa cidade tão grande?". O senhor, ainda com aquela serenidade, respondeu: "Porque eu não devo me sentir prisioneiro dentro da minha própria casa. Minha casa não é nenhuma prisão.".

Eu acho que essas palavras nos fazem pensar muito, não?

Beijus e abraços,

D.

3 pensamentos:

Sergio

Eu não consigo entender como as pessoas se acostumam com esta sensação de insegurança. Pra mim é insuportável. Eu sempre digo que me sinto uma prisioneira: meu portão está sempre com corrente e cadeado, a casa tem alarme e ainda assim sempre me sinto insegura. Deixo meus filhos presos dentro de casa porque tenho medo de deixa-los na frente do quintal; alguns vizinhos contam que certa vez uma menina foi pega por bandidos e a mãe teve que abrir o portão. Muitas historias são fantasiosas e nascem sabe-se lá onde, mas são possiveis e eu fico apavorada em pensar que algo assim possa acontecer.
Enfim, nós perdemos muito tempo da nossa vida nos protegendo de um perigo que não sabemos de onde vem e nem se virá realmente. Prefiro perder meu tempo com coisas mais agradaveis.

Marilena

Gisa

É terrível ter que trabalhar, estudar...viver aqui com a sensação de insegurança a todo tempo.
Mas, o que mais me entristece, é ver essas crianças na rua, sem comida, roupas, sobrevivendo sem expectativa alguma de mudança. Isso me deixa arrasada.

Gislane

Ju

Oi!

É complicado mesmo viver nessa cidade....tb não consigo entender como as pessoas se conformar com isso...a situação é tão séria, que não é dificil alguém ser assaltado e acabar sendo culpado por isso, pois sempre aparece alguém pra dizer: "mas pq vc estava com vidro aberto?" ou "tb, o que vc estava fazendo naquele lugar ou saindo essa hora?" . Acho isso o cúmulo. É por essas e outras que queremos ir embora desse lugar o mais rápido possível!

Beijos,
Ju